Por que a vinda de Sasha & John Digweed no Warung pode ser vista como a noite mais aguardada de toda sua história?

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Por que a vinda de Sasha & John Digweed no Warung pode ser vista como a noite mais aguardada de toda sua história?


 O que define ‘’a noite mais aguardada’’ em uma história que possui quase 22 anos e é repleta de grandes momentos? Evidentemente que nessas mais de duas décadas houveram muitas, muitas datas importantes e esperadas no Warung Beach Club. Eu poderia citar várias, porém, a notícia de receber Sasha & John Digweed juntos no club, foi como ver uma luz no final do túnel de um sonho que por muitos anos pareceu inalcançável, mas que agora está prestes a se tornar realidade. Quem é mais novo e está ligado a outros tipos de artistas, poderia se perguntar; porque esses dois nomes são tão importantes para o Warung? 

Se voltarmos no tempo, recebe-los sozinhos no clube já nos primeiros anos (Digweed em 2004, Sasha em 2006) foi considerado uma conquista enorme por parte da curadoria, pois naquela década eles estavam vivendo o auge de suas carreiras (primeira década do novo milénio), com caches entre os mais altos da indústria e com muita demanda de festivais e clubes de todo mundo. 

Trazer a Santa Catarina dois líderes de toda uma geração de artistas dentro de um estilo que na época era tão popular quanto o Trance, foi realmente um marco para a cena clubber local. 

Ao longo dos anos, os dois ingleses tiveram diversos retornos em datas importantes do calendário e com a própria elevação do club como um dos melhores do mundo, fez o público e os proprietários começarem a pensar: ‘’porque não juntos’’? Sempre foi difícil, afinal eles só tocavam juntos em festivais. O tempo passou, a cena foi mudando, novos estilos se tornaram trend e ganharam mercado, como o Deep House, Melodic House e até mesmo o Techno, que sempre esteve mais no submundo, e hoje tem artistas que arrastam grandes públicos no mesmo nível do trance e melodic. 

Sasha & John Digweed nunca deixaram de ser importantes em diversos mercados, mas claramente hoje não são os nomes mais conhecidos da nova cena pós pandemia.  Eles voltaram para o underground e me parece que, após mais de 30 anos de carreira, estão muito felizes com suas posições, tocando nos melhores clubes do mundo, com um público muito fiel, sem precisar estar nos mega festivais ou deterem residências em Ibiza ou lançarem coisas novas a todo momento. 

Em resumo; eles não devem mais nada a ninguém. Suas entregas enquanto DJs estão no mesmo nível (vi esse ano Sasha no Ade e John em Córdoba), tocando o som que amam, e que som! 

E o templo? Bem, se formos colocar na mesa o que é a essência do Warung, o que é a sua história, os artistas que eram desejados quando o clube abriu, começamos a descobrir melhor o porquê essa vinda para o aniversário de 22 anos representa tanto. Antes de tudo, esse será o primeiro aniversário do novo templo depois da tragédia de 2023 e que tem em seu slogan ‘’return to origins’’. Ou seja, retornar as origens era uma das prioridades do staff. 

Mas, qual origem? Quem faz parte disso são muitos nomes, muitos artistas da geração anos 90, anos 2000. Quando puxamos a linha, lá no fim do novelo de lã, eles estão lá; Sasha, John Digweed, Como os representantes totais de toda uma vida dedicada ao som de clube, mas não qualquer som, e sim, som com alma, com emoção, som que te leva a outra dimensão, que te faz descobrir coisas que jamais imaginaria – som progressivo que tanto combina com o templo e o fez ser ter a ‘’mágica’’ que ninguém consegue explicar.  

O big bang: Em 1996 uma compilação lançada por Sasha e John pela Renaissance intitulada Northern Exposure, se tornou um marco na história do progressive house e da música eletrônica clubber. (eleito um dos 25 melhores álbuns de dance music de todos os tempos pela Rolling Stones)

foto enviada pelo Leozinho do álbum autografado por S&D

Esse álbum foi trazido pelo Leozinho (primeiro residente do Wrg) de Londres depois de morar lá e apresentado para o Gustavo Conti (sócio fundador). Juntos, eles descobriram um novo mundo acontecendo no Reino Unido e ficaram apaixonados por esse estilo de música. O Leozinho virou um dos primeiros e o maior DJ de progressive house do país e o Conti fundou um dos clubes mais importantes da história. 

Para deixar claro, esse álbum foi peça fundamental quando se imaginou o Warung no sentido de qual propósito sonoro o clube iria abraçar. Claro que existe toda uma geração de grandes DJs que são referências e que o clube também possui uma relação muito intima, nem preciso dizer a importância de Hernan, Dubfire ou Solomun para o templo, porém, mais uma vez, as origens apontam para Sasha & John, e coloca-los naquela cabine juntos era algo que não poderia deixar de acontecer, seja lá como fosse. 

A real expectativa: a venda de todos os camarotes em praticamente 2 dias diz muito sobre o peso desta noite, porque? Estamos falando de um público mais velho, que pode fazer essa aquisição para aproveitar de forma mais confortável e que faz parte de uma geração que sonhou em ver esses dois nomes juntos no clube.

Claro que hoje o público mais ‘’mainstream’’ ou iniciante na cena, se pudessem escolher, pediriam por Keinemusik ou Solomun para esse aniversário, porém, quando se sobe a faixa de idade, a conversa muda e isso tem influenciado quem não conhece tanto eles a pesquisar e se interessar em não perder esse acontecimento. 

Os caras: Sasha & John Digweed, pioneiros, duas lendas, talvez estejam vindo para o templo juntos no momento mais improvável, afinal a cena maior está mirando para outros lados, ao mesmo tempo o progressive house está em alta como nunca no Brasil, porém, mais voltado ao som do Hernan, Nick Warren e Guy J. O ‘’progressivo’’ de Sasha e John é outra coisa, é uma sonoridade muito particular, de produtores mais desconhecidos de alta complexidade e de uma seleção muito refinada. Ainda que os dois não gostem de serem chamados de artistas de house progressivo (complexo de criador), eu particularmente vejo o som deles como o último estágio do progressive house: que é quando o estilo se amplia para uma forma de tocar e literalmente se funde com eletronic, deep tech, melodic house e até techno nas horas mais altas da noite, ou seja, tem um pouco de tudo na restrita seleção deles. 

John Digweed, com um estilo mais sério, infernal e de muita classe. Sasha, um som mais envolvente, de basslines abstratos, pesados e de mais atmosfera emocional – uma de suas marcas registradas. 

Podemos resumir que eles hoje garimpam o ouro do verdadeiro melodic house & techno, que no final das contas, é progressive house com linhas elegantes e retas. 

Se você não entende o som que eu estou falando, então pode ouvir o último lançamento de Sasha com Jody Barr. Um som que te leva e leva por uma imersão te colocando para dançar. 

E olha que eu acho que o Sasha nem está em seu momento mais criativo como produtor, ainda assim, seus lançamentos se diferem diante de tantos sons clichês e sem alma lançados todos os dias.

Quando olhamos para o lado do John, não é só seriedade e uma acidez infernal que compõem seus sets, as vezes ele joga algo com vocais que você irá lembrar para o resto da vida, com melodias tão leves que chegam a ser perfeitas.

Esse lançamento pela gigante Bedrock, que ele tocou em Córdoba em agosto para mais de 10 mil pessoas, diz muito sobre o balanço ideal que ele dá ao Sasha e porque quando tocam juntos, conseguem criam algo maior, chegando no que eu chamo de o ‘’santo graal’’ da evolução do progressive house. Um som a frente do tempo, a música do futuro, o nível máximo onde um clubber aficionado pode chegar no entendimento de ondas sonoras. 

Diante disso, penso que o momento para eles virem, ainda que improvável, é talvez o mais especial que poderia acontecer. Foram 22 anos esperando e sonhando em tê-los no Warung, um sonho dos proprietários que foi passado para gerações e gerações de clubbers e que se mantinha vivo lá no fundo da mente daqueles que verdadeiramente amam uma pista escura e uma música que te coloca em imersão total. O ciclo estará completo com chegada deles para um longset que irá sem dúvidas marcar todos os presentes, podendo deixar um legado para o Brasil e especialmente Santa Catarina, eterno. 

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