Já é sabido que a sociedade do século XXI está refém dos algoritmos há algum tempo. Ouvimos falar disso o tempo todo quando se trata de mídias sociais, e-commerce, política, e muitos outros aspectos do nosso cotidiano. Mas aqui venho trazer um panorama voltado a nossa indústria da música eletrônica.
Em seu novo livro, o escritor da equipe do The New Yorker, Kyle Chayka, aponta por que ele acredita que algoritmos estão arruinando a capacidade de uma pessoa desenvolver um gosto único. Recomendações matematicamente determinadas em redes sociais, streaming e outras plataformas estão decidindo o que se torna popular em música, comida, arte e entretenimento, explica ele. O algoritmo promove a média mais ampla possível, "informando as músicas que ouvimos, os amigos com quem mantemos contato", escreve ele, alertando que o triste resultado é uma homogeneização da cultura.
Esse tópico é amplamente discutido na indústria musical, onde a inclusão em playlists do Spotify pode impulsionar as carreiras dos artistas. Chefes de gravadoras, distribuidoras e agências de talentos frequentemente criticam a curadoria impulsionada por máquinas, lamentando como as principais plataformas de streaming (DSPs) lidam com a descoberta musical. Muitos afirmam que está ficando cada vez mais difícil promover novos artistas porque feeds e sugestões orientadas por algoritmos priorizam o que Chayka chama de "conteúdo escalável" - "o que evita alienar as pessoas, mantendo você envolvido o máximo possível, mesmo que esse envolvimento seja muito superficial". De acordo com esse argumento, torna-se mais difícil para os ouvintes descobrirem novos artistas de nicho, por exemplo.
Não é segredo que a economia de streaming impactou drasticamente a criação e a descoberta musical. Novas músicas pop e hip-hop estão ficando cada vez mais curtas para competir pela atenção do ouvinte. A ponte - a parte entre o verso e o refrão - também está desaparecendo em favor de introduções ágeis e refrões mais precoces para prender sua atenção. No nosso mundo da música eletrônica, isso pode ser observado com as versões “radio edit” cada vez mais presentes e mais curtas em duração.
No entanto, embora o streaming e as redes sociais certamente tenham impactado o que é produzido e consumido, os sons underground ainda prosperarão em outras plataformas. Cenas alternativas ou experimentais são, por natureza, resilientes tanto online quanto offline. Acredita-se que a cultura da música eletrônica há muito tempo floresce fora do mainstream, onde coletivos e pequenas gravadoras difundem entre seus fãs e seguidores conteúdos autorais e de qualidade que não ganham a atenção dos algorítimos.
Há aqueles que irão dizer o contrário: que as descobertas trazidas pelo Spotify ajudam a aumentar o alcance de conhecimento de novos artistas e sons diferentes. Mas a matemática não mente. Se você fizer essa busca de forma orgânica e aleatória, a probabilidade de você encontrar coisas novas e “fora do padrão” é com certeza maior do que se você se deixar levar pelo algorítimo. Fica aqui a reflexão. O que vocês acham?
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