Formada por Rodrigo Sabongi e Vitor Pereira, a dupla Bone Brotherz teve início em 2017, enquanto os DJs e produtores estudavam Medicina. Ganhando notoriedade no meio universitário com o projeto, hoje eles estão formados e atuando como cirurgiões ortopedistas, mas dividem seu tempo também com a música, que deixou de ser um hobby e passou a demandar profissionalmente da parte criativa dos artistas.
Aplicando um rebranding na marca e estudando profundamente produção e música eletrônica, o Bone Brotherz passou a adicionar músicas autorais em seus sets, evoluindo desde os shows no Réveillon de Boipeba (BA) até a recente apresentação na comemoração de 90 anos da Escola Paulista de Medicina (EPM-UNIFESP).
Lançando cinco músicas em 2023, conversamos com a dupla para entender o desenvolvimento do projeto e sua identificação de sonoridade. Leia abaixo.
Vocês dividem o tempo em duas carreiras completamente diferentes. Entre a medicina e a música há alguma semelhança? Em algum momento utilizaram do conhecimento de uma das áreas ao atuar em outra?
A medicina é uma área extremamente técnica e requer do médico muito conhecimento, o que acontece também na teoria musical. Ambas necessitam que você atue com criatividade e técnica. Por exemplo, em cirurgias precisamos ter uma bagagem teórica e prática, mas precisamos também ter uma maleabilidade para conseguir resolver situações que acontecem no procedimento. E na música não é diferente. Quando você se apresenta e o set tem alguma intercorrência, precisa saber usar essa flexibilidade de se adaptar às surpresas e tentar sempre tirar o melhor de você e daquela situação. Então, em nosso caso, como cirurgiões, fazemos o melhor para prover o melhor tratamento possível para nossos pacientes e, quando a gente está em uma apresentação como DJs, também tentamos levar a melhor vibe de positividade para aquelas pessoas.
Outro ponto semelhante é sobre o quanto do coração se coloca para atuar nas duas áreas. A medicina é, além da técnica, a arte de lidar com as pessoas. E com a música é a mesma coisa… É colocar o sentimento para tocar na vida das pessoas. Colocar vontade e paixão é essencial para aqueles que cruzam nosso caminho, sempre buscando por bons resultados e proximidade, seja com o paciente ou com o público.
Em 2023 vocês se lançaram como produtores musicais. Como foi dar esse passo na carreira? Quando vocês perceberam que não queriam apenas tocar, mas também produzir?
Montar um set, querendo ou não, é contar uma história ao longo do tempo. Durante nossas apresentações, sentimos a necessidade de contar a nossa e transmitir o que gostamos de tocar. Além disso, produzir se tornou uma válvula de escape e uma forma de exercitar nossa criatividade, aliviando os estresses do dia a dia. Então, produzir foi algo que aconteceu naturalmente para nós. E quando percebemos que gostaríamos de profissionalizar o hobby, vimos que era preciso produzir, não tem jeito. Até mesmo para amadurecer como artista. Então pegamos essa empolgação de realmente gostar de música e de fazer um set e criamos algo nosso. Produzir é essencial para realmente mostrar o que a gente pensa e sente, de fato, como grupo.
Ao longo do ano foram cinco singles autorais e diversos remixes e edições. Como vocês podem explicar o catálogo musical da dupla e a evolução da sonoridade?
O jeito que a gente evoluiu nas produções tem muito a ver com o jeito que a gente evoluiu também na música eletrônica, tanto como o gosto pessoal, quanto o som que tocamos por aí. Começamos produzindo a “Hold Me Now” muito baseado no house, principalmente o slap house, movimento que foi encabeçado por vários artistas brasileiros que fizeram a sonoridade se espalhar no mundo, virar uma tendência. O Vintage, que fez parte disso, em especial, é uma influência muito forte pra gente, então muito do que a gente se baseia tem a ver com a história do som dele.
Com o tempo a gente foi tomando a nossa própria proporção e na sequência acabamos produzindo um pouquinho de tech house, com a “Metronome”, e foi uma experiência diferente. Fomos amadurecendo também nas pistas, tocando um pouquinho esse tipo de som, junto com o house, o deep house e o slap house. Foi interessante passar pelo tech house, vimos que não era muito a nossa linha, e aí guinamos novamente para um som brasileiro, que a gente sempre gostou e apoiou. Foi neste momento que a gente resolveu colocar no ar aquela faixa em que tivemos a oportunidade de fazer com o Atitude 67 nas pistas e conseguimos finalmente desenrolar o lançamento da “Bora Lá”. Isso mudou um pouquinho a nossa visão, porque começamos a mirar o projeto com o que a gente vinha tocando nas pistas também. Focamos mais no som brasileiro, associado muito ao movimento do afro house, com fortes referências ao Maz, Antdot e ao Keinemusik lá fora, que vem ganhando uma grande visibilidade com esse som novo. Então começamos a nos identificar muito com eles, e vimos uma oportunidade de embarcar nessa produção musical também, que gostamos tanto, motivando nossa produção. Lançamos “What You Say” na sequência, nessa mesma vibe.
E tem bastante coisa vindo nessa pegada agora. Nos encontramos nesse nicho, temos muita facilidade de produzir e a criatividade flui, além de conseguirmos soltar as tracks nas pistas com uma vibe bem legal.
Em resumo poderia dizer que a gente flutuou entre essas raízes do slap house, um pouquinho de tech house e a gente acabou migrando para uma sonoridade mais brasileira, associada com sons mais orgânicos, com uma pegada ainda do house, mas um house mais melódico, envolvendo muito essas tendências novas do afro house e do house melódico, e tentando trazer isso para a realidade mais brasileira, com instrumentos e sonoridade brasileira. Essa vai ser a nossa linha de produção em 2024, com certeza.
E falando em sonoridade, vocês se encontraram na mistura de elementos brasileiros com a música eletrônica. Conforme disseram, o afro house está dentro dessa identidade e sonoridade da dupla, né?
Sim, como dissemos anteriormente, quando estávamos produzindo a “Bora Lá” que as coisas começaram a meio que se encaixar para termos um plano realmente de produção, e o afro house caiu muito bem com isso, porque é um tipo de som muito melódico, que a gente gosta bastante, além de ter uma composição musical bonita, envolve bastante acorde, piano, instrumentos de corda e percussivos… É bem interessante, a gente se identifica muito. E a bateria é aquilo que a gente gosta: percussiva e com facilidade de adicionar elementos, principalmente brasileiros, para gerar um ritmo super legal e gostoso de ouvir, que você consegue escutar por muito tempo, dançar, curtir e manter uma vibe muito boa. Então, o afro house encaixou muito com isso que a gente sentiu de querer trazer mais o som brasileiro.
Até então tínhamos lançado três músicas em inglês e quisemos trazer uma letra brasileira. Tivemos um insight e pensamos: “por que não usar instrumentos brasileiros também?”. Foi muito gostoso passar a produzir esse som, nos encontramos num nicho super legal. A gente vai vir nessa pegada não só com letra brasileira, músicas brasileiras e instrumentos brasileiros, mas também usando alguns remixes e outras referências novas.
Inclusive o nosso próximo lançamento agora em dezembro, o último de 2023, vai ser um remix de uma música super clássica e famosa. Estamos falando de uma versão para “Hollaback Girl”, da Gwen Stefani, nessa pegada afro-melódica, que vamos disponibilizar no SoundCloud.
2024 tem tudo pra ser um ano fantástico pra gente conseguir alcançar mais ouvidos, que é o nosso objetivo. Espalhar nossa música pra todo mundo que quiser ouvir e trazer bons momentos para as pessoas com o nosso som.
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