Com shows em alguns dos principais clubs do mundo, Albuquerque traz refinamento para a pista de dança.
Ricardo Albuquerque é hoje uma das figuras mais ativas da música eletrônica. Residente do lendário Warung Beach Club desde 2013, sua trajetória ascendente é intimamente conectada ao clube catarinense.
Sua identidade sonora é não fazer mais do mesmo e sua hiperatividade não o deixa ficar muito tempo parado ou atrelado a determinado estilo. Nascido em Curitiba, Albuquerque é fundador de marcas expressivas como Radiola e Sonido Profundo e como produtor musical recebeu suportes de Oxia, Khen, Facundo Mohrr, Marco Carola, Hernan Cattaneo entre outros. Com lançamentos em selos renomados como Get Physical, Akbal Music, Natura Viva e 3rd Avenue, suas apresentações são marcadas por atmosferas melódicas aliadas ao groove característico que contribuiu para levá-lo a importantes palcos como Space Miami, BPM Festival, Amnesia Ibiza, Studio 338 London, Watergate Berlin, Sisyphos, Pratersauna, Brunch In The Park – Barcelona, Fuse, Rumors Ibiza, Fabric London e a lista é longa.
De passagem pela capital do Paraná, Nazen Carneiro aproveitou para realizar uma entrevista com o artista que abriu o jogo sobre Warung, lançamentos, parcerias, seu amor pela música e de quebra deu dicas musicais. Para começar, Albuquerque foi perguntado sobre seu TOP 5 de faixas próprias e você confere na trilha sonora da entrevista, começando por este extended set gravado no Warung Beach Club antes do fatídico incêndio que a destruiu no início de 2023.
RTH: Albuquerque, muito obrigado por esta entrevista e parabéns pela sua trajetória. Para começar queremos saber o que você anda ouvindo… Pode compartilhar cinco das músicas que você tem mais ouvido recentemente?
Senor Chugs – Head In The Cloud of Smoke
Bellville, Fabio Vanare – L’uomo (Fort Romeau Remix)
Locklead – Blue Monday
Chrissy, Maria Amor – Your Ghost
Erdi Irmak – Devi (Rework)
RTH: Obrigado por estas dicas! Agora, conta pra gente o seguinte: O que mudou mais no teu som dos primeiros anos para hoje em dia?
Acredito que muita coisa muda. Hoje tenho mais vivência, mais experiência. Passei por muitas situações dentro e fora dos palcos. Por conta disso acredito que eu transite melhor entre os estilos que gosto ao invés de me prender a uma linha de som apenas. Gosto de criar essa dinâmica nos sets e produções e com o tempo entendi melhor quando posso e devo fazer isso.
RTH: Com mais de quinze anos de carreira o seu objetivo com a música mudou alguma coisa? Comente essa relação por gentileza.
Meu objetivo continua sendo o mesmo, tocar as pessoas através da minha música e fazê-las lembrar daqueles momentos como algo extremamente especial. Quanto a isso nada mudou. O que mudou é a qualidade com que faço isso. Hoje minhas apresentações são mais consistentes, eu estudo mais, trabalho mais e consequentemente acabo apresentando mais qualidade ao público.
RTH: Isso é um fato! Agora, como você descreveria o som do Albuquerque hoje?
Eu acredito que é um som bem exclusivo, com uma identidade própria. Como costumo dizer, cada cenário requer um som e minha case hoje permite que eu faça isso. Albuquerque é deep house, tech house, Progressive House, indie dance, organic e até techno quando me sinto desafiado a isso. Faço questão de ter elementos exclusivos que me diferenciem de outros artistas quando me apresento.
RTH: As chamadas ‘cartas na manga’, né? (risos). Estamos sabendo que vem novidades boas por aí, incluindo um lançamento pela Stereo Productions em Julho. Comente por gentileza!
Vocês estão bem informados! A Stereo Productions é o selo do Chus & Ceballos assina palcos de festivais importantes como The BPM Festival. Sempre foi um selo que curti por apresentar tracks que ficam entre o Progressive House e o tech. Eu criei um laço de amizade com o Dilby, artista neo zelandês que me inspira muito. Fizemos duas faixas juntos e uma em especial, chamada ”Seek Shelter” vem sendo destaque nos meus sets, muitos pedidos de ID. Felizmente o Danny Serrano ouviu ela por aí e veio nos convidar para lançar. Nós achamos incrível, pois se trata de um selo respeitado mundialmente e que faz um bom trabalho de divulgação.
RTH: Ainda sobre lançamentos. Tem algo vindo pela Be Adult também? Confirma? Pode antecipar algo para a gente?
É verdade sim, outro selo espanhol que admiro muito e de uma linha diferente, bem mais Deep. Será um EP de duas faixas com vocais muito legais, ambas em colaboracão com meu amigo CANCCI. ”Over” é uma faixa bem groovada e com cortes de voz que deixaram a melodia de certa forma sexy. ”Find a Way”tem vocais originais da cantora Emanuelle.Wav. Gravamos no meu estúdio em Curitiba e tenho certeza que será bem recebida pelo público.
RTH: Você tem uma participação importante na Warung Recordings. Vem algo por lá também?
Recentente fiz um remix para o Oxia junto com meu amigo Antdot. A faixa emplacou varias playlists editoriais do Spotify e recebeu suportes de Bob Moses, Miss Monique entre outros. Em setembro tenho um lançamento bem legal, são duas faixas em colaboração com o Emi Galvan, gosto muito do som dele e foi um enorme prazer poder criar essas duas faixas juntos. Inclusive acabamos de receber suporte na “Stay High” do Hernan Cattaneo no último podcast Resident.
RTH: E por falar em Warung… você tem residência há mais de dez anos no clube. Comente essa relação por gentileza?
É um privilegio poder representar a marca por todo esse período. Poucos artistas conseguem manter resdiências duradouras e a nossa é algo especial e que perdura. O club faz questão de me manter nos line ups in loco e nas tours pelo Brasil e pelo mundo. Assim também faço questão de me entregar ao máximo em cada apresentação e representar a marca como ela merece. Tenho o templo tatuado na pele, meu crescimento como DJ é intimamente relacionado ao club, conheci meus melhores amigos na pista e vivi muito dos melhores momentos da vida lá dentro. Acredito que essa relação será pra sempre.
RTH: Como foi receber a notícia do incêndio que colocou o club abaixo? Pode compartilhar novidades sobre o futuro do club conosco?
Foi um tremendo golpe na alma. Indescritível a tristeza que senti. O Leozinho me ligou por volta das 9 da manhã perguntando o que estava acontecendo, eu estava na Pipa-RN para uma gig e custei a acreditar que era verdade. Até agora ainda é difícil, muito triste perder aquela pista que tinha uma energia magnífica e viveu tantos momentos de felicidade. Falando sobre o futuro, o Garden já está aberto com um sistema de som impecável. Sobre o pistão, existem planos, conversas, mas ainda não posso falar pois isso pode atrapalhar, vamos deixar rolar e por enquanto curtir nosso garden que está irado.
RTH: Você além de DJ e produtor musical sempre atuou em outras frentes também, seja com as gravadoras Radiola Records, Warung Recordings ou com os eventos do Sonido Profundo entre outros. O que tem mantido o Albuquerque mais ocupado hoje?
Hoje meu foco é produzir meu som, selecionar tracks e estudar música. Isso ocupa 90% do meu tempo de trabalho. A rotina de viagens me consome bastante, normalmente começo arrumando a mala e a case na quinta a noite e so acaba domingo a noite ou segunda de manhã. Faço a curadoria do selo do Warung Recordings também. Temos uma equipe legal que me ajuda com contratos, artes e relacionamento com a distribuidora. O Sonido Profundo também tem lançado muita música boa, quem me ajuda muito nisso é o Dan do duo GRIFE. Nas festas do selo quem me da um suporte é o Foletto. Estamos fazendo showcases somente quando sentimos que é uma empreitada segura, sem arriscar perder dinheiro só pra fazer o evento. O mercado anda difícil pra quem quer fazer evento de música boa.
RTH: Realmente é fundamental um bom time, assim como boas parcerias. E por falar em parceria, o D-Nox – que está comemorando 30 anos de carreira – é um deles né?
Sim, o D-Nox é uma pessoa incrível e temos nos falado bastante, quase que diariamente. Ele é um ícone dentro e fora dos palcos. Sinto-me muito bem em poder ter essa relação com um artista que admiro tanto. Temos três faixas juntos, uma 100% finalizada, chamada Brasilisco que faz qualquer pista dançar. Outras duas que estamos finalizando, mas que já estou tocando nos sets, ambas são faixas bem bonitas e que vão dar o que falar. Acredito que a parceria seja duradoura, assim que acabarmos essas iremos começar outras.
RTH: Wow! Demais mesmo. Agora, por gentileza, fale comente a parceria com o Emi Galvan.
O Emi é um artista hiper talentoso. Consegue manter uma linha de Progressive House muito energética e hipnótica, algo que eu admiro muito mesmo e me inspira. Eu estava gastando de tocar um remix dele pro Nick Warren, e de alguma forma um video chegou nele, quando começamos a conversar e ele me convidou pra uma colaboração. Começou uma faixa e me mandou para finalizar, e assim eu fiz o mesmo. Assim surgiram Stay High e Don’t Kill The Menssenger que em breve sairão pelo Warung Recordings.
RTH: Seu projeto Sonido Profundo tem ganho cada vez mais espaço. Comente a proposta, como surgiu o projeto e descreva o momento em suas prórpias palavras.
Criei o projeto para gerar um contexto em cada vez que eu quisesse tocar algo mais profundo, sem precisar daquela obsessão por bombar a pista. O Progressive House e o deep fizeram parte da minha formação como DJ desde 2007, quando comecei a frequentar a pista do Warung. Artistas como Danny Howells, 16 Bit Lolitas e Sasha me fizeram entender que essa linha de som é uma das mais interessantes que há, mas pra quem quer de fato ouvir um som que vai além. Nesse sentido comecei com o podcast no meu soudcloud que recebo um convidado por episódio, já são 20, entre eles Facundo Mohrr, Dosem, Ricky Ryan, Ezequiel Arias, Alec Araujo, entre outros que admiro. Pra uma festa dessa linha de som ser bem sucedida, é necessário criar um contexto, que vai da arte visual do flyer, a escolha do line up, local, iluminacão. Tudo isso cria a atmosfera pra que essa linha de som seja tocada. Hoje fazemos showcases quando há demanda e como eu disse anteriormente, tomamos cuidado pra produzir eventos próprios, pois consideramos um momento de cautela. Acabamos de criar uma linha de roupas da marca e em breve faremos o lançamento. Conto com a ajuda do duo GRIFE, Foletto e DJ Leozinho em diversas abas do selo. Além deles, como residente temos a Scabeni e o CANCCI.
RTH: Quais os próximos passos do Albuquerque?
Estou focado em fazer música. Sinto que venho evoluindo a cada dia e tem muita música boa por vir. Quero alcançar palcos onde ainda não estive. Muita vontade de crescer e fazer parte da trilha sonora da vida das pessoas. Meu grande objetivo sempre foi espalhar alegria pra quem me escuta e assim continuo pensando ser meu grande legado, fazer a diferença com o que eu mais gosto de fazer. Nesse caminho acabo conhecendo muitos artistas interessantes que me identifico. Quero poder trazer-los comigo nessa jornada que não é nenhum pouco fácil, mas é o que nos faz feliz.
RTH: Parabéns e obrigado mais uma vez. Para fechar, gostaria que comentasse a importância da música na sua vida.
Eu vivo pela música, penso nela o dia inteiro, já são 15 anos como DJ profissional e nunca pensei em desistir. Já desisti de outras profissões, mas dela, nunca duvidei. Em alguns momentos ficamos um pouco tristes, essa vida de dedicação verdadeira a arte tem altos e baixos, mas isso nos torna mais fortes. A música une as pessoas em uma pista de dança, cria instantes inimagináveis que não seriam possíveis sem ela. Pra mim, música é o combustível diário.
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