A cada dia que passa fica mais evidente que o Brasil pode ser muito mais do que apenas o país do futebol e do samba. No mundo dos esportes, há cerca de 10 anos, um novo movimento criado pela imprensa internacional surgia, o chamado "Brazilian Storm". No surf, modalidade que antes era dominada pelos gringos, uma imersão enorme de novos talentos e estrelas nacionais começava a emergir. Dezenas de surfistas tomaram os espaços do circuito mundial como uma verdadeira tempestade, conquistando cinco títulos e sendo destaques mundiais. Mas o que isso tem a ver com música eletrônica? Muita coisa!
Após uma crise financeira sem precedentes e uma das pandemias mais catastróficas da história, poucos acreditavam que a indústria do entretenimento voltaria tão forte como nunca. Com o retorno dos shows ao vivo e um público sedento para viver novas experiências, o que vimos foi o ressurgimento radiante do cenário musical.
E sem dúvidas, uma das cenas que mais colheram frutos nos últimos tempos foi a música eletrônica brasileira. Assim como aconteceu no surf, a cena nacional de dance music vem como uma tempestade dominando o gênero em todo o mundo. Podemos arriscar que essa é a melhor fase que já vivemos em mais de 40 anos de história do cenário eletrônico brasileiro.
Para celebrar e entender mais sobre este movimento, além dos momentos mais icônicos que nossa cena vive atualmente, trouxemos alguns motivos que nos levam a crer que o “Brazilian Storm” já é uma realidade concreta!
Invasão verde-amarela nos maiores festivais e clubes do mundo
Nos últimos anos, a presença de brasileiros nos line-ups dos maiores eventos mundo afora e de bandeiras canarinhas nas pistas de dança em vários rolês globais tem sido cada vez mais comum.
Awakenings, Ultra Miami, Electric Daisy Carnival, Untold, Defected, Creamfields, EXIT, Lollapalooza, Rock in Rio e Coachella são apenas alguns exemplos dos incontáveis big festivais que confirmaram a presença de DJs brasileiros.
Um dos maiores propulsores desse movimento foi o Tomorrowland. Em sua edição de 2022, o recorde de maior número de artistas nacionais da história do festival (até então) foi firmado, com 10 brazucas distribuídos em 3 diferentes palcos, incluindo o Mainstage. Para 2023, esse recorde será batido: 14 nomes representarão a bandeira verde-amarela e disseminarão a dance music nacional no festival belga: Alex Stein, Alok, ANNA, Bhaskar, Carola, Cat Dealers, Chemical Surf, Dubdogz, Fancy Inc, Öwnboss, Vegas, Victor Ruiz, Sevek e Vintage Culture.
Durante a edição de 2022, o eufórico público brasileiro marcou presença em peso e dominou as pistas durante todo o festival, principalmente, durante os sets dos DJs nacionais, protagonizando um show à parte que impressionou os fãs de música eletrônica de todo o planeta. Confira abaixo o "encontrão" que rolou na edição especial de 15 anos do festival, em 2019!
Collabs com astros e lançamentos por gravadores de destaque
Com cada vez mais relevância e representação global nas variadas vertentes da música eletrônica, uma tendência está virando rotineira para os artistas da nossa terrinha: o lançamento em grandes labels e colaborações com nomes internacionais de destaque.
Em meio a tantas conquistas, a seguir estão exemplos que ilustram o sucesso meteórico de alguns artistas brasileiros:
- Em 2021, a gaúcha Carola tornou-se a primeira mulher a lançar na STMPD RCRDS, gravadora da estrela holandesa Martin Garrix, além de tocar no Tomorrowland no ano seguinte, destacando o poder feminino e a força da mulher preta numa indústria musical desigual.
- Pela Armada Music, label do ícone Armin van Buuren, o paulista Scorz conquistou o prêmio de ‘Tune of the Year’ (track do ano) e ganhou suportes desde o A State Of Trance até o Tomorrowland, apresentando-se na comemoração super especial do ASOT 1000. Hoje o artista é uma das maiores revelações brasileiras do Progressive/Melodic House no mundo.
- Em sua melhor fase da carreira, VINNE criou uma identidade musical própria chamada ‘Safabass’, tornando-se o único artista da América Latina a integrar o time da gravadora Revealed, chefiada pelo monstro Hardwell. Para completar, o jovem de apenas 24 anos fez collabs com Dillon Francis e Hardwell (ainda a ser lançada); subiu no palco com Tiësto em pleno Amsterdam Dance Event (maior conferência de música eletrônica no mundo) e acumulou suportes de Alesso, Kygo e Dimitri Vegas, para citar alguns.
- Uma das maiores revelações do Techno nacional no último ano foi o paulista Acid Asian. Com seu talento e qualidade nas produções, o artista (com apenas 2 anos de carreira) conseguiu ter sua track tocada por Charlotte de Witte, no set de encerramento do palco principal no penúltimo dia de Tomorrowland 2022. A belga ainda convidou Asian para lançar um EP em sua label KNTXT e integrar o time da estreia da KNTXT no Brasil.
- A cena de Tech House brasileira vem voando alto e ganhando um absurdo prestígio internacional. A lista de novos talentos lançando em grandes labels é enorme, mas para citar alguns: Beltran, SIMAS e Brisotti pela Solid Grooves (fundada por Michael Bibi e PAWSA); Classmatic e Bruno Furlan na Hot Creations (dos gigantes Jamie Jones e Lee Foss); DJ Glen e Court T. na Dirty Bird (com Claude VonStroke liderando); bewav, ENNE, Nicolau Marinho e Duarte na Hellbent (criação de Cloonee); Volkoder e Viot na Catch & Release (de Fisher), e muito mais.
- Vale lembrar também de Binaryh, Aline Rocha e a Mila Journeé, que respectivamente integraram o time da Afterlife (maior selo de Melodic Techno do mundo), Defected (histórica gravadora de House Music) e a Diynamic (label de Solomun). É ou não é o Brasil no topo?
Dominação nos streamings e nos rankings globais
No ano passado, entre os 10 artistas nacionais mais escutados no mundo pelo Spotify, 5 foram da cena eletrônica (Alok, Öwnboss, Sevek, Vintage Culture e Dubdogz), ficando à frente de estrelas do Funk e Sertanejo, como Pedro Sampaio e Marília Mendonça. Na lista de músicas nacionais mais tocadas mundialmente, 5 tracks eletrônicas se destacaram e entraram no Top 10.
Além disso, Öwnboss, tido como promessa de 2022 pela rádio oficial do Tomorrowland, a One World Radio, cumpriu a profecia e chegou com sua track “Move Your Body” (collab com Sevek) na 5ª posição do ranking das músicas com mais suportes no ano, segundo a 1001 Tracklists.
Já no renomado ranking anual dos DJs mais populares do mundo, organizado pela revista britânica DJ Mag, 4 brazucas provaram novamente a nossa força. Alok manteve o retrospecto histórico, seguindo em 4º lugar; Vintage Culture subiu para a 11ª posição; o duo Cat Dealers saltou 16 colocações, indo para o 66º lugar, e os irmãos Dubdogz estrearam no ranking na 93ª posição.
Efeito Mochakk e Vintage Culture
Dois dos nomes mais falados atualmente por aí, Mochakk e Vintage, vivem entre semelhanças e diferenças, o auge de suas carreiras.
O primeiro, reunindo habilidade, curadoria musical refinada e performance cativante, atraiu a atenção global e hoje tem uma agenda recheada de gigs impressionantes – Coachella, EDC México, Lollapalooza, Sónar, Time Warp, EXIT Festival, Green Valley, AME Club, D-EDGE, para mencionar algumas. As redes sociais do paulista só reforçam o sucesso por trás do talento: Mochakk foi um dos DJs que mais cresceram em números de seguidores em plataformas como Instagram e Tik Tok no último ano.
O segundo está atingindo proporções inimagináveis, batendo recordes de suportes e viajando o mundo inteiro com sua versatilidade musical. O DJ sul-mato-grossense emplacou inúmeros hits nos charts, conquistando uma dobradinha histórica em 2021 ao ter 2 tracks no topo das mais vendidas do mundo pelo Beatport, mercado de maior referência na música eletrônica – seu remix de “Drinkee” com John Summit & Sofi Tukker ganhou o ouro; e o single “Free” com Fancy Inc & Roland Clark ficou com a prata. Mesmo ano em que atingiu o primeiro lugar no “Top 101 Producers”, ranking feito pelo 1001 Tracklists que contabiliza os artistas com mais suportes do ano. Vintage também foi um convidado especial da turnê de retorno dos lendários Swedish House Mafia, abrindo os shows do trio em 12 países diferentes. E não podemos esquecer das residências em alguns dos clubs mais renomados no mundo, como o Space Miami, Hï Ibiza (eleito o Club nº 1 do mundo pela DJ Mag), e os nightclubs do Tao Group em Las Vegas (detendora do Hakkasan, Omnia, Marquee e outros).
Sonoridade brasileira conquistando o mundo
Mais um ponto essencial para o Brazilian Storm é o enorme reconhecimento que nossa cultura musical está conquistando dentro da cena eletrônica global.
Algumas tracks com identidades nacionais estão se destacando e rodando o mundo afora, com influências do MPB, Funk e até da música Afro-Brasileira.
O talentoso MAZ com o remix da track “Banho de Folhas” de Luedji Luna, furou a bolha da Dance Music, conquistando os corações de estrelas pop internacionais, como Drake e Anitta. Logo na sequência, o carioca uniu forças com Antdot para uma versão de “Todo Homem”, de Zeca Veloso, e alcançaram o #Top 1 de Organic House no Beatport em menos de 1 semana de lançamento.
Remetendo à ancestralidade africana, mesclando representatividade e sensibilidade musical, a DJ e musicista Curol tornou-se uma das maiores referências do Afro House nacional, sendo a primeira brasileira a apresentar um set exclusivo para o Soundsystem, programa de uma das maiores emissoras de rádio do planeta, a BBC Radio 1.
Um outro grande destaque é o catarinense Classmatic. Inspirado na sonoridade do funk carioca e latino-americana, o produtor já emplacou hits em labels gigantes do Tech House, como a Hot Creations e a Solid Grooves. Os suportes que ele acumula também impressionam: Carl Cox, Jamie Jones, Michael Bibi, Joseph Capriati, Roger Sanchez e Loco Dice são alguns artistas de renome que já tocaram suas tracks em sets.
Consolidação de novos selos e espaços
Novas label parties nacionais e espaços voltados à música eletrônica têm descoberto a fórmula do sucesso na construção de marcas estruturadas, competentes e com enorme potencial de crescimento. Alguns ótimos exemplos são a BOMA, o Surreal Park e a ARCA.
A BOMA surgiu em 2018 como uma plataforma de conteúdo e lifestyle, sem se enquadrar em rótulos ou em uma linha de som específica. Com a missão de proporcionar experiências inéditas ao público, através de locais e atrações diferenciadas, a festa já passou pela Praça das Artes, em São Paulo, Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro e no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, reunindo artistas renomados, como: Kungs, Sonny Fodera, Chris Lake, Cassian, Yotto, Kölsch, Artbat, Peggy Gou e Bob Moses.
O Surreal Park, com apenas 1 ano de vida, já contou com apresentações de mais de 200 artistas icônicos do House ao Techno. Para além da música, o selo também expandir seus horizontes cada vez mais, tornando-se um complexo artístico que engloba arte, eventos sociais e corporativos e gastronomia.
Já a ARCA tornou-se um dos espaços de eventos mais consagrados de São Paulo para a indústria criativa. Focado em trazer experiências inéditas e inovação, o local tem sido palco de momentos únicos com grandes festas e apresentações históricas.
Artistas internacionais gigantes se apresentando pelo país
Os últimos dois anos foram marcados pelas apresentações de vários artistas icônicos em terras brasileiras. Espalhados pelos palcos dos maiores clubes e festivais do Brasil, como o Green Valley, Laroc, Ame, Warung, Só Track Boa, Rock In Rio e Lollapalooza, DJs de renome global contribuíram para reafirmar a força da cena nacional e abrilhantar de forma lendária o retorno dos shows ao vivo.
A lista é enorme e daria para fazer um line-up bastante eclético, já que os nomes agradaram a todos os públicos. Os fãs de EDM foram agraciados com Tiësto, Armin van Buuren, Martin Garrix, David Guetta, KSHMR, Steve Aoki, Kaskade, Deadmau5, Laidback Luke, Lost Frequencies, DJ Snake, Alan Walker, Alesso e Hardwell.
Já os fãs de House e Techno foram presenteados com Diplo, Bob Sinclar, Claptone, Black Coffee, Jamie Jones, Lee Foss, Chris Lake, Fisher, Sonny Fodera, Solardo, Dom Dolla, James Hype, Malaa, Michael Bibi, Joris Voorn, Boris Brejcha, Dubfire, Sasha, The Martinez Brothers, Seth Troxler, Solomun, Dixon, Kevin Saunderson, Sven Väth, Joseph Capriati, Paco Osuna e outros.
E até os refinados para um som mais melódico/progressivo vibraram com RÜFÜS DU SOL, Eric Prydz (estreando no país com seu projeto Holo), WhoMadeWho, Meduza, Miss Monique, Korolova, Mind Against, Mathame, Stephan Jolk, Massano, Patrice Bäumel, Kasablanca e Tinlicker.
Chuva de festivais e labels retornando e estreando no Brasil em 2022:
Apenas no ano passado, nosso país presenciou a volta de eventos gigantes das mais variadas vertentes da música eletrônica, além de estreias incríveis que entraram para a história.
Tivemos o retorno de dois grandes selos do Techno global, o DGTL em abril (que contou com Amelie Lens, Innellea, Len Faki, Jan Blomqvist, The Blessed Madonna, I Hate Models e outras estrelas) e o Time Warp em maio (com Monolink, Bob Moses, ARTBAT, Maceo Plex, Nina Kravis, Kölsch, e muito mais). Além disso, o projeto londrino Boiler Room sediou sua 30ª edição em terras brasileiras, realizando também mais 8 festas em São Paulo.
Como se não fosse o suficiente, ainda rolou ‘debut’ de várias label parties incríveis na ARCA, como a Afterlife, de Tale of Us, em março (que além dos anfitriões, contou com Adriatique, Colyn, ANNA e Denis Horvat); a Defected, em abril (com John Summit, Gorgon City, Vintage Culture, Ashibah, Aline Rocha e Sam Divine); a Anjunadeep, liderada pelos respeitados Above & Beyond, em setembro (com Ben Böhmer, Eli & Fur, Franky Wah, Luttrell, Rigooni e Drelirium); a KNTXT, da belga Charlotte de Witte, em novembro (contando com Enrico Sangiuliano, Indira Paganotto, ONYVAA e Acid Asian); e a tradicional Drumcode, de Adam Beyer, em dezembro (tendo ainda Bart Skils, Eli Iwasa, Lilly Palmer, Wehbba e Layton Giordani).
E ainda vem muito mais por aí
Se você já achava o ano de 2022 incrível, 2023 promete superar ainda mais. Para este ano, temos a confirmação de rolês incríveis que irão mais uma vez impulsionar o Brasil para patamares extraordinários.
Apenas no primeiro semestre teremos novas edições da Afterlife, Time Warp, Warung Day Festival, XXXPerience, NAFF; a estreia do ZAMNA Festival, diretamente de Tulum, e do Navio Só Track Boa e o retorno ao Brasil (após 6 anos) do Ultra Music Festival, um dos maiores festivais de Dance Music do planeta. Sem contar o carnaval, que com certeza irá convocar inúmeros DJs nacionais e internacionais para fazer parte das festas de rua deste ano, além, é claro, do Ame Laroc Festival e do S.O.M Festival.
Enquanto isso, no segundo semestre, o Brasil receberá o The Town (irmão do Rock In Rio que promete trazer grandes nomes da cena eletrônica), Green Valley Cruise (cruzeiro conceitual com programação pesadíssima), quarta edição do DGTL Brasil, tour da Só Track Boa por 8 cidades, em 7 estados diferentes e o Vintage Is A Festival, no qual Lukas Ruiz será o único artista no line-up. Por fim, o Tomorrowland, tido como o maior festival de música do mundo inteiro, fará um dos comebacks mais esperados de todos os tempos pelos fãs brasileiros.
O orgulho e o respeito pela música produzida por brasileiros é maior a cada dia que passa. Apesar disso, nossa cena ainda caminha a passos largos para conquistar o mesmo reconhecimento que os estrangeiros possuem. Mas se tem um momento crucial para darmos o devido valor que os DJs e produtores nacionais merecem, a hora é agora.
O ‘Brazilian Storm’ vai muito além de um movimento de artistas, envolve público, labels, promoters, managers, bookers, fotográfos, filmmarkers – toda a indústria de entretenimento ao vivo. Nós da RÁDIO TECNO HOUSE, como mídia especializada, nos orgulhamos de fazer parte disso e estamos ansiosos para contar diariamente a história que está sendo escrita na música eletrônica nacional.
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