No sábado, dia 21 de janeiro, aconteceu a primeira edição do Carlos Capslock Festival para celebrar o aniversário de 12 anos da festa. O evento foi realizado na Fabriketa, local querido pelos frequentadores da Caps e contou com mais de 50 artistas divididos em 3 palcos: Immersion, Imagination e Subversion.
As expectativas eram altas, pois a Carlos Capslock pode ser considerada uma das principais festas underground de São Paulo. Cumprindo um papel importante no movimento de subcultura, ao longo dos anos, ajudou a moldar a cena explorando diferentes sonoridades e linguagens artísticas, contando com um importante engajamento social e político.
Ao chegar no evento, nos atentamos a organização e aproveitamento do espaço. As diferentes áreas estavam bem distribuídas e sinalizadas, o que facilitava a localização dentro do festival. Além dos três palcos, haviam duas áreas de descanso: uma delas, localizada ao lado do palco Immersion, contava com food trucks e grandes assentos. A outra, situada ao lado do palco Imagination, era coberta e mais intimista (ótimo lugar para descansar e fazer amizade com a craudi, que é a forma como Carlos Capslock se refere ao seu público).
Achei a escolha de posicionamento dos bares interessante, pois como eram localizados na parte central do evento, era fácil acessá-los independente do palco que estivesse. Os drinks estavam ótimos, os valores não eram abusivos e havia uma boa variedade de opções de comida. Além disso, ao lado da área de descanso coberta existia um espaço para expositores que vendiam produtos como roupas e itens de tabacaria.
A atenção aos detalhes era perceptível, cada palco tinha sua identidade visual que dialogava com a sonoridade presente nele. A área de descanso coberta exibia em seu centro uma peça composta de tubos de LED que projetavam animações na cor verde, fazendo referência a Heineken, uma das marcas que apoiou o evento.
O palco Immersion recebeu apresentações de artistas como Ellen Allien, Mama Snake, Anthony Rother, Tessuto, Ananda e Sebastian Voigt. Sua estrutura tinha como peça central um conjunto de painéis de LED que formavam um grande retângulo vertical e, nele, eram exibidas animações manipuladas em tempo real pelo duo de vídeo artistas Modular Dreams. Ao seu redor, foram colocadas ribaltas de LED e moving heads (equipamentos que se movem livremente e, quando combinados com fumaça, projetam um feixe luminoso) e, no entorno da pista, existiam torres de iluminação que acentuavam e traziam vida aos traços arquitetônicos da Fabriketa. O vídeo e a iluminação complementavam a sonoridade mais acelerada e agressiva das vertentes do Techno, entregando ao público uma experiência imersiva multissensorial.
Já no Imagination, palco voltado para as vertentes do House, se apresentaram artistas como Badsista, Eli Iwasa, L_cio, Due e Renato Cohen. O visual me remeteu a uma estética retro futurista com predominância de elementos prateados contrastando com os tons terrosos e acinzentados da estrutura original da Fabriketa. A iluminação era composta por luzes que incidiam em balões prateados posicionados na parte traseira do palco e luzes apontadas para a pista, onde foram colocadas serpentinas que cruzavam do palco até a parede oposta. Esses elementos refletivos tornaram a iluminação imprevisível e única, que combinou muito com a proposta sonora do espaço, dando um ar festivo e animado.
Subversion foi o palco que recebeu shows, DJs e a Carlos Capslock Drag Race. Artistas como Curses, Schu, Noporn, Magal e Erica foram responsáveis por comandar a pista desse espaço que era menor e mais intimista. Alocado em um dos espaços fechados da Fabriketa, sua estética seguia uma temática subversiva com presença de graffitis e uma estrutura industrial com pilares que cruzavam a pista. A iluminação reforçava esses traços arquitetônicos e a peça central do palco era uma matriz de LEDs que, quando combinados com fumaça, projetavam feixes luminosos na pista.
Todos os palcos contavam com sistemas de som agradáveis, com bastante pressão nas frequências graves, que preenchiam todo o recinto, médios bem definidos, com dinâmica e força, e agudos limpos que não incomodavam os ouvidos. Nos momentos de break das músicas, nos quais é natural a presença de menos elementos, era possível ouvir levemente o som dos outros palcos, mas nada que comprometesse a experiência do público.
Dos artistas que consegui prestigiar, posso destacar alguns que me chamaram atenção. Kenya20hz é um nome expoente na cena e entregou um set cheio de presença e personalidade, transitando entre sonoridades massivas com graves cheios e muito groove, fazendo com que a pista não parasse durante sua apresentação.
O alemão Anthony Rother trouxe através de seu Hybrid Electro Set uma apresentação rica em timbres quentes, melodias melancólicas e baterias analógicas agressivas que preenchiam todo o recinto do palco Immersion, deixando evidente a influência de sua bagagem de mais de 20 anos de carreira.
O duo brasileiro Noporn, através de seu Spoken-Word Electronic Dance Music, cativou a pista do palco Subversion do início ao fim de sua apresentação com vocais icônicos e diferentes influências sonoras.
O americano Curses fez uma performance com vocais ao vivo que transitou entre influências do Post Punk ao EBM, criando uma atmosfera incrível que fazia a pista se sentir em uma festa subversiva dos anos 80.
A alemã Ellen Allien deixou claro o motivo de ser um ícone na cena do Techno de Berlim. Com uma apresentação enérgica e dançante, cheia de energia, carisma e presença de palco, a artista fez o público do palco Immersion não parar do início ao fim de seu set.
Badsista colocou a pista do palco Imagination para dançar com um set repleto de suas influências musicais com forte presença de ritmos quebrados que fugiam do óbvio e muita energia.
Por fim, o anfitrião da noite, Tessuto, fechou com chave de ouro a pista do palco Immersion com uma apresentação cheia de energia e força, fez a pista dançar até o último minuto de festival.
Além dos artistas musicais, os palcos Immersion e Imagination receberam performances de Ronalda Bi, Lua Negra, Kaká Toy, Era Shankar, Katrevosa, Gui Mauad, Elloanigena Onassis, Annyl Lynna, Casa Ubuntu, Ferdi Gi, Guma Joana, Amy K e Marvena Ubuntu.
Em conclusão, posso dizer que a primeira edição do Carlos Capslock Festival foi uma experiência incrível. A curadoria apresentou artistas de diversas sonoridades mantendo a coesão com a proposta de cada palco. Além disso, a estrutura estava muito boa tanto no quesito conforto quanto no visual e a experiência sonora foi complementada com os projetos de iluminação e as performances, o que trouxe uma maior imersão. Estou ansioso para as próximas edições do festival e a próxima festa da Caps já tem data marcada: 18 de março.
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