DJ e produtora cria ode ao mundo raver e ao seu universo consciente com o álbum “Loca”
É sempre interessante quando vemos uma artista fazer seu próprio manifesto de liberdade criativa e maturidade através da arte. Há oito anos criando beats e hipnoses para a cena psicodélica, Soul Shine conseguiu tal feito a partir de sua mentalidade autêntica – além de ser meio “esponja de referências” – e condensou tudo isso em uma jornada completa com o álbum “Loca”. A DJ e produtora é guiada pela Wav Bookings e o álbum saiu na Alien Records.
A abordagem dedicada de Soul Shine à sua profissão também impressiona e demonstra o caminho prolífico que a aguarda daqui em diante. Juro: ela preparou para a imprensa um super PDF, muito bem-feito, com todo o storytelling deste projeto e, quando menos percebi, eu lia tudo e ouvia o projeto totalmente imerso no soul-shine-verso, mexendo os ombrinhos na poltrona e achando uma pena não estar, neste exato momento, no front dela em uma rave.
No material de storytelling em questão, Soul Shine explica cada faixa através de quatro “indicadores sensoriais”, isto é, guiando o ouvinte a compreender seu trabalho por níveis de reação: se te faz refletir, se te dá um sentimento de felicidade, se te coloca em um transe de psicodelia e o quanto de energia os arranjos musicais da artista vão demandar (e rebater) de você, principalmente em um contexto de pista. Essas ideias vão se tornar ainda mais evidentes à medida que Soul Shine for lançando os clipes; haverá um para cada track.
De fato, esses indicadores dizem muito sobre “Loca”. Mas não somente eles, e de ‘louca’ Soul Shine não tem nada; o termo se refere muito mais à expansão de sua própria consciência e à aceitação de sua autenticidade. Por este motivo, o álbum é recheado de diversas referências. Em uma sequência eletrizante de oito faixas, a artista nos transporta diretamente a movimentos como o Eurodance/Eurotrance, o Psy Full On, o Progressive… tudo em uma roupagem atual.
Para alguém que lida com seu trabalho de maneira tão pessoal e com tanta entrega, momentos reflexivos não faltam. Entre as tracks do álbum – uma delas, “Wisdom”, em parceria com Adalamoon – o convite é para expandir a consciência e unir o ‘saber’ com o ‘fazer’. Em outra ocasião, “Pictures”, o papo vira sobre transformar suas visões em realidade; ‘eu sei que existe mais [do que isso], e você sabe, porque você sente. […] Uma fantasia solitária pode transformar um milhão de realidades’, diz o áudio da faixa.
A cada música há uma nova nuance sonora, uma interconexão de dois pólos de Soul Shine, que ela mesma divide entre lado A, mais alegre, e lado B, mais agressivo. Nesse redemoinho criativo, você se depara com piano, guitarra, sons místicos, discursos em áudio e até mesmo o tradicional sax do Jazz. ‘Crie um novo mundo’, diz a faixa “Emotions”.
E nessa teia de altos BPM há também vários humores, desde introduções melódicas emocionais e build-ups catárticos até drops Psy poderosos e momentos fofinhos de vocais meio Pop, como em “Boom” – quase um dance hi-tech em pele de Psy. Os synths cósmicos ajudam a dar uma tônica narrativa para as letras também, a exemplo da faixa “Galaxy”, que comenta como a vastidão do universo nos convida a valorizar a alegria e a vida; ‘em minha visão, nós [seres humanos] somos coisas muito breves’, recita a letra.
Antes mesmo de ouvir a finalização do álbum – os arranjos siderais imponentes e as basslines festivaleiras de “Trip” – eu já havia decidido que Soul Shine é uma ótima aposta para o cenário, uma figura consideravelmente refrescante para a nova geração do Psytrance e que ainda temos muito a ganhar com o crescimento constante desta artista em nosso cenário. Avoa, amapoa!
Ouça o álbum completo abaixo e apoie o projeto no Beatport.
Soul Shine está no Instagram.
0 Comentários