Toda a energia propulsora da artista, no entanto, está focada, agora, em sua apresentação no Rock In Rio
Não é todo dia em que se tem a oportunidade de acompanhar uma mulher DJ e produtora musical tarimbada prestes a subir ao palco de seu terceiro Rock In Rio.
Mary Olivetti colecionou feitos nos últimos anos que a posicionam em um lugar muito florido no jardim da música brasileira. Seu remix para a compilação em homenagem à obra de Rita Lee & Roberto de Carvalho, por exemplo, foi o mais elogiado pela rainha do rock brasileiro, tornando-se constante em pistas de dança de todo o país.
O sucesso foi sucedido por outra bomba. A reinterpretação de um dos primeiros hits de seu pai, o gigante produtor musical Lincoln Olivetti. Em parceria com Mahmundi, Mary Olivetti regravou em 2021 a praiana Black Coco, de 1978, e obteve uma repercussão tão grande quanto a que conseguiu com Cor de Rosa Choque, de Rita e Roberto.
A imersão no estúdio corre em paralelo com outras carreiras de sucesso de Mary Olivetti. A de DJ, que a faz rodar o país em grandes festas e já a colocou por três vezes no palco do Rock In Rio (contando com a edição deste ano, com apresentação de Mary no palco New Dance Order, no encerramento do festival, dia 11, data em que o evento será protagonizado somente por artistas mulheres), e a de mãe coruja. A artista leva tão a sério a integração das crianças com sua profissão na música que carrega as crias para vários dos eventos em que se apresenta.
E isso não é uma novidade, nem tão pouco algo estranho para a artista. Mary conta em entrevistas que a parede de seu quarto, quando criança, era o que a separava do estúdio onde seu pai recebia grandes nomes da música brasileira, como Tim Maia e a própria Rita Lee, para gravações de grandes hits dos anos 70 e 80. Crescer no meio musical e levar a arte para a vida toda está no DNA dos Olivetti.
A próxima jóia lapidada nos estúdios de Mary é um remix para Jota Quest, a ser lançado até o final de 2022. Toda a energia propulsora da artista, no entanto, está focada, agora, em sua apresentação no Rock In Rio.
A artista (que levará seus três filhos para vê-la no festival) está acostumada a grandes plateias. Mas a expectativa para o festival, um dos maiores do mundo, fez com que Mary encarasse a missão com a responsabilidade peculiar aos virginianos.
“Eu uni a produtora musical com a DJ. Ontem mesmo eu estava fazendo a unha na frente do computador e ouvindo música. Ouvi uma da Gal e pensei ‘essa música no Rock In Rio vai ser uma maravilha’. E aí o que eu fiz? Já comecei a produzir e hoje estou fechando um remix de Flor de Maracujá para tocar no festival. É tudo junto, sabe? A produtora com a DJ, trabalhando juntas o tempo todo”, resume numa frase o que tem sido rotina em sua vida desde que começou a se jogar na produção musical”.
Além da versão inédita para Flor de Maracujá, de Gal Costa, Mary Olivetti ainda apresentará várias inéditas que acabaram de sair de seu estúdio, entre elas as autorais Orunmila, A Fala que Vem do Céu e The Night, com vocais de Gabriela Riley, um remix para Monday (de Robson Jorge e do pai, Lincoln Olivetti), além do remix de Jota Quest. Falando em produção, vem coisa da pesada para um futuro próximo: “estou produzindo em parceria com Kassin o disco novo do meu pai e do Robson [Jorge]”. O que faz a gente concluir que a DJ virou produtora. E que a produtora, para a nossa sorte, segue firme como DJ.
O figurino de Mary Olivetti para a apresentação no Rock in Rio é parte de uma história que envolve parceira e gratidão. A artista usará um modelo exclusivo produzido para ela pela grife carioca Farm. Foi trabalhando como vendedora da loja (seu primeiro emprego, aliás) que Mary descobriu sua profissão de discotecária. Com gosto musical apuradíssimo, como se poderia supor partindo de seu DNA, a vendedora começou a mostrar seus dotes de trilheira e passou a “queimar” CDs com músicas que escolhia para tocar na loja. O resultado agradou tanto que Mary, além de conseguir – no balcão da loja – sua primeira gig como DJ, deixou a rede para fazer parte da Rádio Ibiza, onde passou a cuidar da trilha que rolava em centenas de outras marcas, incluindo a própria Farm.
“Tudo se formou em torno de uma família. Além de Marcello Bastos e Kátia Barros, sócios da Farm, foi o Rafael Gasparian, sócio da Rádio Ibiza com o Pedro Salomão, que me ensinou a discotecar”, conta Mary.
Aqui, então, entra uma terceira profissão que talvez nem todo mundo conheça. Além de DJ e produtora musical, Mary Olivetti é uma das mais requisitadas curadoras de trilhas sonoras do mundo da moda no Brasil.
“Filho de peixe, peixinho é. Quem herda não furta. Todos esses dizeres populares caem como uma luva para Mary. Assim como seu incrível pai, Mary aprendeu, talvez no berço, a disponibilizar o seu talento para ajudar pessoas e marcas a fazerem boas conexões, graças à sua generosidade. Tem um talento que já nasceu com ela e que compartilhou com a gente. Na época, montando uma empresa de identidade musical, com os nossos anseios e principalmente com as nossas experimentações, eu a convidei para fazer a trilha sonora da Farm, uma marca desejada, jovem, e em franca expansão. A Mary já cuidava das trilhas lá dentro. E já estava começando a dar passos como uma DJ super talentosa, entendia tudo de música, de produção musical. Foi um casamento mais do que perfeito”, conta Pedro Salomão, sócio-fundador da Rádio Ibiza.
Despertada há pouco mais de três anos, desde que Mary cursou produção musical na faculdade, a paixão por fazer música não diminui com a rotina. “Começo de manhã e passo horas produzindo, indo de uma música para outra. Quem dera se todos os dias pudessem ser exatamente iguais a esse. De só produzir, fazer música. Eu amo de verdade, tô cada dia aprendendo um macete novo, um plugin novo. Um jeito novo de ouvir, de tocar. Eu acho que meu coração mora na pista de dança, não é?”, questiona Mary. Ninguém tem dúvidas disso.
Os ouvidos cada vez mais exigentes de quem gosta de música eletrônica, especialmente aqueles que preferem fugir das top 10 mais ouvidas, sabem reconhecer uma DJ que produz – e muito bem! Foi assim que a produtora, que por um breve momento havia considerado “sossegar, viajar menos, tocar menos”, voltou à estrada, com agência nova (a Alliance Artists) e uma certeza: só tocar o que realmente a faz feliz.
“São 20 anos como DJ. Eu comecei de novo, parece que é uma nova era. Estou diferente, tenho uma nova cabeça, uma nova mentalidade musical; tocar só o que eu amo de verdade. Antes não era assim, acabava tocando o que todo mundo queria ouvir. A maturidade traz muito isso para a gente em tudo na vida, né? Não só na pista de dança, mas em todas as nossas escolhas. Então a gente começa a abrir mão de muita coisa para fazer o que realmente nos dá prazer e o que a gente ama”, ela conclui: “estou indo para as festas para fazer o que acredito, que é para tocar a minha house”.
Mãe, produtora musical, trilheira e festeira, sim. Como se não bastasse viajar pelo Brasil levando na bagagem seus anos de pesquisa, além de muitas pastas de músicas próprias, Mary criou o label Raio Laser, que se traduz em uma festa mensal (no Lote, em São Paulo) e num programa de rádio (na online Veneno), onde a premissa é essencialmente uma só: house music all night long.
Coroando seus 20 anos de estrada como DJ, a gig no Rock in Rio traz outra alegria, tocar ao lado de artistas mulheres que ela admira e, em vários casos, de quem é amiga. “Gosto de ver cada vez mais mulheres nos line-ups. Entrei no Rock In Rio nesse dia, que é só das mulheres e achei divino. Acho que nunca vi isso acontecendo no mundo inteiro. Para mim é muito significativo. Entre as mulheres, tenho sentido mais união, mais amizades verdadeiras, alianças”, celebra Mary. Talvez ela não tenha a dimensão de quanto sua grandiosidade combina com essa data. Oh, yes, it’s ladies night.
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