Com produção da Interactive Design, este é, sem dúvidas, um dos mais originais da história do Boiler Room
Original da cidade de São Paulo, cresceu em Curitiba e permaneceu cosmopolita, ligada à cultura e aos meandros da psique humana, promovendo a cultura como se experimento fosse.
E de fato, experimento é. Não é mesmo? A DJ produtora musical é também empreendedora e liderou importante movimento na cena cultural de Curitiba com o selo Gold Dome – gravadora de música e produtora de moda – e o projeto intercultural de intervenções artísticas rave Redoma, ambos experimentos segundo a psicóloga formada pela PUC/PR e que viu ali a chance de conduzir valioso trabalho em psicologia social e áreas correlatas em psicologia da arte.
A sua música influenciou e bebeu dessa fonte ao passo que desenvolveu-se e abriu asas durante a pandemia. A pesquisa entre diversas vertentes da House Music, do Techno e do Trance dos anos 90 até a atualidade em busca de sonoridades analógicas acomoda agora também o canto que ressurgiu da infância da artista para dar vazão a uma musicista hoje mais madura e completa.
Agora Lourene surge imponente e contestadora em episódio da Boiler Room transmitido em novembro de 2021 que marca a transição da artista para o formato que incorpora todos os aspectos artísticos de Lourene promovendo uma experiência sensorial que brinca com o som e a percepção estética num episódio de tirar o fôlego. Com produção da Interactive Design, este é, sem dúvidas, um dos mais originais da história do Boiler Room. E olha que isso não é pouco.
Para saber mais sobre essa apresentação épica de Lourene no Boiler Room, suas produções e esse canto suave e hipnótico, Nazen Carneiro entrevistou a artista com exclusividade em português para a DJ Mag Brasil. Mas antes, bora DAR O PLAY nesse episódio do Boiler Room que está demais!
RádioTecnoHouse: A pandemia afetou a todos como pessoa, como músicos.. O que a pandemia trouxe para a Lourene?
Primeiro foi mesmo um desespero. Ficar sem eventos depois de 16 anos vivendo a realidade deles foi assustador. Tudo o que fazíamos parou: venda de nossas peças de roupa, festas, gigs e, consequentemente, eu já não tinha mais como investir em nada. Não tinha capital de giro. Então o foco em saúde mental, redescobertas e ainda mais aprofundamentos em minha pessoa foi o norte. Eu sempre estudei e vivi isso, mas fui ainda mais disciplinada em meditação, alimentação e terapias. Fiquei muito tempo sozinha com meu processo criativo e curativo simultânea e diariamente.
RádioTecnoHouse: Você cantava quando era criança e agora o canto está ressurgindo na sua vida. Comente essa relação por gentileza.
O canto, a composição e os vocais são frutos que renasceram nesse momento descrito anteriormente. Na infância eu fiz coral na igreja, mas a escrita sempre foi espontânea e derivada de muita observação e reflexão. Eu componho mpb, rnb, pós punk, de um tudo. Estou alimentando isso pra lançar um álbum na hora “certa”. Já no âmbito da música eletrônica, eu sempre senti falta de vocais nos meus dj sets. Encontrar vocais nas músicas dos subgêneros que eu gosto era sempre muito raro.
Ao mesmo tempo, conversando assuntos aleatórios com alguns produtores que eu admiro – o notar da minha voz era natural pra eles, não pra mim. Sempre traziam coisas como: “nossa! Sua voz é incrível, pode me mandar algo pra eu usar?”. Então – como muita coisa em minha vida – eu resolvi fazer. Apenas deixar fluir e gravar. Voz é potência, voz é comunicar da alma.
RádioTecnoHouse: Vários produtores brasileiros e europeus já estão usando os seus vocais, quem você destacaria?
Impossível não destacar o já tão destacado francês Idris Bena. Ele é realmente único em suas produções e agora vamos lançar um álbum todo em parceria, abrindo os trabalhos da sublabel da Forest ill. No Brasil é inacreditável o que o Kair faz. Produtor ímpar com grooves que automaticamente nos colocam pra dançar no primeiro minuto.
Eu – sinceramente – sinto falta de colaborar com as manas. Troquei algumas coisas, mas ainda não aconteceu. Estou à procura.
[IMAGEM 2] Lourene por Jennifer França credito: https://instagram.com/jen.phs
RádioTecnoHouse: Agora vamos falar do convite para o Boiler Room que você detonou (risos). O que sentiu quando recebeu o convite?
Como sempre, uma mistura de emoções. Estava há um ano e meio sem eventos e imersa numa pesquisa profunda de músicas e possibilidades. Foi gostoso receber um convite inesperado e bem estruturado, ao passo que câmeras em um dj set sem público sempre me assustaram.
RádioTecnoHouse: Conta mais pra gente sobre a composição dessa apresentação, o que você usou, como foi o processo criativo, enfim…
Eu já estava gravando vocais e podcasts nesse tempo todo sem eventos. Meditei por um bom tempo e senti que seria o momento ideal para testar a mistura das duas coisas. Também em meditação me vi com a roupa escolhida e na locação que eu nem conhecia. O processo foi muito espiritual e sincrônico, ao passo que se fez um fechar de ciclos profissionais e emocionais anteriores. A criação estética e sonora do episódio Boiler Room fluiu muito naturalmente.
RádioTecnoHouse: E como tem sido o feedback dessa apresentação no Boiler Room?
Muito maior do que eu esperava. Pessoas do mundo inteiro trouxeram comentários que me emocionaram de várias maneiras. Exigentes do meio, e não envolvidos com o mesmo, se sentiram contemplades de formas profundas e se entregaram à experiência. Fiquei muito feliz. Eu tenho sempre que aprender a confiar mais ainda no processo.
RádioTecnoHouse: Você sempre se destacou pelo seu som e pela sua criação, inclusive estética. No seu Boiler Room isso fica evidente. Comente.
Eu sempre fui estudiosa e produtora de experiências estéticas interativas. Não pude deixar de pensar em tudo que contemplasse algo assim dessa vez. Eu acho que cada detalhe é importantíssimo. Cada cor, escolha de tecido, traço, cabelo, maquiagem, sonoridades, técnicas, construção. Eu gosto de contar uma história imersiva. Almejo que as pessoas entrem um pouco no universo da minha mente e vejam como ela é.
EMBED https://www.instagram.com/p/CV-P4HNl4km/
RádioTecnoHouse: A Lourene hoje tem uma bagagem ampla, com feedbacks positivos vindos do Brasil e do estrangeiro. Como você descreve o atual momento da sua carreira?
Eu continuo existindo no processo de cuidar e curar quem sou, sabe? Vejo a carreira como parte integrante disso. Impossível separar. Tem gente que acha que é personagem, mas sou eu. Uma pessoa com uma mente que viaja bastante porque tem uma alma que quer expressar. Quanto mais leve estou para criar, melhor. Para pesquisar horas por dia, para escrever e ritmar, vocalizar, também. Eu almejo viver isso pra sempre, então diariamente trabalho cada detalhe pra que minha expressão esteja saudável e livre.
RádioTecnoHouse: Lourene acaba de entrar para o cast da Triade Brazil, agência responsável por trazer ao país artistas como Magda, Ricardo Villalobos e Luciano…
Em Curitiba a cena eletrônica é muito forte e você conhece de vista muita gente boa há anos. Amizades e trabalhos em comum acabam fazendo com que a gente perceba pessoas por mais de décadas. Foi o que aconteceu entre Lourene e a Triade, é bom poder contar com a responsabilidade e a experiência de uma equipe de renome. Hoje estou 100% focada na minha criação artística.
RádioTecnoHouse: Todos querem saber as novidades que vem por aí com a Lourene Dá para adiantar alguma coisa para o público da DJ Mag?
Agora em Dezembro me apresento na Thelemusik em Florianópolis no dia 17, na C1RCU5 em São Paulo dia 24, em Balneário Camboriú dia 31. Janeiro de 2022 tem Rio Grande do Sul, Distrito Federal, e ainda outras datas a serem anunciadas no Brasil.
Fora isso rola a estréia da canção de amor cyberpunk em parceria com o artista Yannick Hara, os lançamentos de músicas produzidas pelo Junior Stupp e pela Monic, pelo uruguaio Juan Dairecshion, pelo italiano Matteo, pelos franceses Soyouz e Maxime, com as 9 últimas gravações de vocais ritualísticos, de diálogo, sátiras e afins… Tem bastante coisa vindo por aí, me aguardem em 2022.
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