Novo álbum, primeiro show virtual interativo da AL, clipe intimista, masterclasses, lives criativas, remixes para ídolos e a volta dos shows marcaram os últimos dois anos de Patricia Laus
Poucos produtores brasileiros de música eletrônica ornam tão bem o rótulo de artista quanto BLANCAh. Desde o início do projeto de Patricia Laus, em 2014, era notável que ela era diferente, desenhando as capas dos seus próprios lançamentos, cantando e, acima de tudo, desenvolvendo todo um conceito e um universo fantástico, em torno de pássaros, para sua persona artística; embora sua música seja majoritariamente instrumental, é sempre poesia.
Com a eclosão da pandemia, em março de 2020, naturalmente, o isolamento impôs duras barreiras, como a todas as pessoas. Mas, se por um lado, ela precisou dar um tempo com a rotina de shows e turnês, por outro, usou as limitações como combustível para sua criatividade aflorar mais do que nunca, desbravando novos terrenos e experiências.
“Muitos artistas relatam que a pandemia em suas carreiras representou um enorme hiato, perdendo a criatividade e a motivação para seguir nesses quase dois anos de portas fechadas e eventos suspensos. Mas este definitivamente não foi o meu caso. Salvo o fato de não poder sair para tocar, estive mais ativa do que nunca. Aproveitei todo o tempo que
as restrições me impuseram para trabalhar no estúdio, produzir muito conteúdo e estudar bastante”, conta.
Divulgação de novo álbum com proposta disruptiva
Seu segundo álbum de estúdio, “Arias of Sky”, foi lançado em maio daquele ano, e o que poderia ser encarado como um péssimo timing — afinal, todas as tours tiveram que ser canceladas —, foi visto como a oportunidade de inovar. Em parceria com a startup argentina MUSURE, BLANCAh desenvolveu o primeiro show virtual interativo da América Latina. Em uma experiência para um público seleto, no dia 13 de junho, foi criado um metaverso 3D, com estética gamer: um templo dos pássaros, com uma réplica da estátua do lendário Jatayu, a maior escultura de pássaro do mundo, localizada na Índia.
Além de se deparar com esse mundo fantástico repleto de ilhas flutuantes, aves, paisagem incrível, cores e fogos de artifício, os 150 pagantes (que compraram seus ingressos por três dólares) escolhiam um pássaro como avatar, e podiam voar livremente pelo cenário, conversar uns com os outros e escolher os melhores ângulos para assistir ao show. A artista era filmada em tempo real, enquanto executava a live, e se encontrava disposta em uma esfera branca, colocada acima da garra direita de Jatayu. Apesar de haver um registro do show, ele foi considerado uma experiência única e irrepetível, porque a interatividade foi exclusiva do momento.
“Foi um projeto que durou praticamente um ano e culminou em um resultado lindo, superando nossas expectativas. Estávamos inquietos pensando em maneiras de fazer com que o público participasse ativamente do show, e não apenas sentasse em frente a TV para assistir. Depois de muito estudo e muito trabalho conseguimos criar o que foi considerada a primeira experiência interativa da América Latina”, explica a catarinense.
O videoclipe para “Vast Blue Sky” também foi adaptado em um novo desafio. Como a ideia original também foi barrada pelo cenário pandêmico, Laus resolveu com uma gravação intimista, em que ela criou personagens de massinha de modelar e os filmou em meio a cenários e adereços da sua casa. Foi sua primeira experiência com stop motion.
Ainda focada na divulgação do álbum, a produtora criou a série de vídeos “Track by Track”, explicando o conceito por trás de cada faixa.
Criação da própria label
Na mesma época, Patricia fundou com os amigos Camila e Rene, do Binaryh, a sua própria gravadora: HIATO Music, que debutou em outubro e, em um ano, lançou sete EPs — incluindo “Signs of Bliss”, da própria BLANCAh, que acumula na label a função
de A&R, junto a Rene, e de ilustradora das artes. Além dos seus criadores, a HIATO já lançou material de Mila Journée, Chappier, CRUXZ, Obscure Sense e deGust.
2021
Se 2020 foi focado em promover “Arias of Sky”, 2021 teve highlights mais difusos, que passam por convites de peso do Beatport, masterclasses para o curso do Warung, streamings dos mais diversos estilos, convites especiais para remixes e, claro, a retomada das turnês.
Virando o ano em grande companhia
Na virada do ano, a artista foi convidada pelo Beatport para representar o Brasil em sua celebração mundial. Em série de lives feitas para dar boas vindas ao novo ciclo de 365 dias, BLANCAh fez parte de um time que contou com nomes como Carl Cox, Nastia, Nicole Moudaber, Jamie Jones, Honey Dijon e vários outros pesos pesados do cenário mundial, distribuídos por 20 time zones diferentes.
Na sua apresentação, a brasileira tocou pela primeira vez a música “Sign of Bliss”, presente no seu EP de estreia pela HIATO, em janeiro, e que contou com suporte de ninguém menos que Hernán Cattáneo e o duo ARTBAT.
Professora e mentora
No primeiro semestre, também se empenhou em produzir e lançar suas aulas para a Warung School, plataforma de ensino do famoso clube de Itajaí, no qual a produtora é residente.
“Foram meses de preparação e gravação da minha masterclass. São 40 aulas gravadas em que passo minha visão de mundo e de arte para os estudantes, na intenção de inspirá-los a sair um pouco da caixa, focando menos no mercado e mais em questões internas e pessoais para exercitar a criatividade e a autoexpressão”, pontua Laus.
Quem sabe faz ao vivo (e diferente)
Em meio às aulas, BLANCAh participou de diversos streamings com propostas bem diferentes entre si. Entre eles, destacam-se dois gravados diretamente da sua casa: uma “Rooftop Session”, em que, ao mesmo tempo que tocava e cantava, escrevia mensagens em papel e as amarrava em balões, para que voassem para longe e posteriormente fossem encontradas por outras pessoas por aí; e uma “Living Room Session”, direto de sua sala de estar, rodeada por alguns de seus livros e bibelôs.
Já para o núcleo nova-iorquino Samsara, gravou sobre o Rio das Águas Frias, em Alfredo Wagner/SC. Mas talvez o principal tenha sido a inauguração da própria série
“Shades”, cuja proposta é totalmente minimalista: lives em que BLANCAh é apresentada contra a luz, em ambiente fechado, podendo ver apenas sua silhueta em uma semipenumbra.
“A ideia principal dessa série é a perda da identidade e o desejo de evitar distrações com cenários mirabolantes ou com público, elementos presentes na maioria dos streamings. O foco está na estética crua e na música em si”, explica.
O primeiro vídeo foi lançado em março pelo Beatport, enquanto o segundo foi ao ar nesse último sábado, 04 de dezembro, fechando o festival online da DJane Mag. A performance contou com a colaboração da artista multimídia Hedra Rockenbach, usando uma tecnologia avançada que sincronizava as imagens da performer com efeitos audiovisuais programados para responder a certas frequências sonoras.
Os destaques finais de 2021 ficam por conta de dois convites especialíssimos que BLANCAh recebeu para remixar dois de seus ídolos: o veterano croata Petar Dundov, em “Spark”, e o cantor e compositor gaúcho Humberto Gessinger, o eterno líder da icônica banda Engenheiros do Hawaii, em “Um Dia de Cada Vez”.
Para 2022, a expectativa é a melhor possível, dando sequência à recente volta dos shows presenciais, que a tem deixado super empolgada.
“A retomada tem sido linda, com agenda cheia. Fiz turnê pela Argentina, que foi bafo, e agora vou tocar no festival Nukleos, em Punta Cana [República Dominicana], em janeiro, Warung Day Festival em abril e Time Warp em maio. E ainda tenho muita produção em estúdio para fazer de 2022 um ano com mais lançamentos; em janeiro, chega novo release pela HIATO”, finaliza.
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